28 novembro 2012

Eu não estudo com os meus miúdos

Eu não estudo com os meus miúdos - mas faço-os trabalhar imenso.

Uma vez li um artigo. Já não me lembro onde. Mas lia-se que a falta de responsabilização no estudo pode muito bem ter origem na falta de responsabilização noutras áreas. A grande maioria das crianças tem a papa toda feita, em todas as áreas da sua vida. Eu ainda estranho, continuo a estranhar, os ares incrédulos quando conto que os meus filhos se vestem sózinhos desde os 3 anos. Quando conto que comem praticamente sózinhos desde o ano e meio / 2 anos, quando conto que se ajudam uns aos outros a despir para o banho, que apertam sapatos sózinhos, que não precisam de mim para por a pasta na escova e lavar os dentes, nem para lavar a cara, nem para por creme.
Ainda só o crescido está na escola de verdade, e ele não é bom aluno porque alguém se senta todos os dias com ele a estudar. Ele é bom aluno porque desde sempre se trabalhou com ele a arrumação, a organização, a gestão do tempo, a partilha das tarefas domésticas. Ele é bom aluno porque sempre se aproveitaram oportunidades para estudar cores, letras, números...
Ele hoje sabe perfeitamente que não pode ver televisão se os trabalhos não estiverem feitos e a música estudada. Ou se o quarto estiver de pantanas. Ele sabe também que o "não" vale mesmo "não" e não há volta a dar. E ele gere o seu tempo: estuda, arruma, ajuda, para poder ver televisão se lhe apetecer.

Ninguém se senta com ele a fazer trabalhos ou a estudar: mas ele trabalha imenso. Há muitas formas de estudar e trabalhar com os miúdos, pelo menos na fase do pré-escolar e 1º ciclo. Quando não trás trabalhos, é importante trabalhar na mesma. Mas não tem que ter tom de obrigação. Tem a forma de uma ficha inventada, ou de uma palavra para fazer frases à volta, ou de uma brincadeira de professores e alunos em que o adulto é o aluno e o professor que tem que passar trabalhos para o aluno fazer. Para ele estamos a brincar - mas nestas brincadeiras estuda imenso, trabalha imenso e isso trás-lhe uma grande destreza para fazer o resto sózinho. 

Outra coisa que aprendi ser importante são os livros como amigos, e material sempre à disposição para eles poderem ser criativos (folhas, lápis de carvão e de cor, tesoura, cola...) .

O segredo de um bom aluno ou de um bom profissional passa sempre pelo muito, muito trabalho. Não me parece que haja exeções.

14 novembro 2012

Quem diz a verdade não merece castigo

Mentir é fácil. Dizer a verdade trás o pânico do castigo e da punição. Mas sabes, filhote? Quem diz a verdade não merece castigo. Acho melhor dizeres a verdade. Ganhas mais em dizer a verdade. Ficas vermelho dos pés à cabeça, e voltas a insistir num qualquer "não fui eu". Dou-te a última oportunidade. Pela última vez, o que foi que aconteceu? Estás a tirar-me do sério. Mas só porque insistes na mentira, se dissesses a verdade já tinhamos resolvido isto. "Como é que sabes que estou a mentir?" As mamãs sabem coisas estranhas, de uma maneira estranha. É quase porque sim. Mas sabem. E, pela última vez, vais ou não contar-me a verdade? Pões as mãos a proteger a cara, assumindo que o que vais dizer é um tanto ou quanto grave e te vai trazer uma palmada. Mas vês o caso bastante mal parado, e acabas por dizer a verdade. Para teu espanto, não recebes uma palmada. Em vez da palmada tens um abraço. Empurras-me para te soltares do abraço, olhas para a minha cara, com um ar de "mas o que é que se passa aqui??". Disseste-me a verdade. Quem diz a verdade não merece castigo. O que fizeste foi feio, é verdade. Mas disseste a verdade. E, só por isso, não mereces castigo. E eu acrescento ainda na tentativa de te incentivar a dizeres sempre a verdade, que "Ia proibir-te de ires ao parque hoje. Como me disseste a verdade, podemos ir" :)

02 novembro 2012

A responsabilização em vez da desculpa

aqui tinha falado de como comecei cedo a responsabilizar os meus pimpolhos, atribuindo-lhes tarefas domésticas. Além dessa responsabilização, há também a responsabilização pelos próprios atos. Os atos trazem consequências. As consequências devem ser sentidas e entendidas... Só assim os atos serão melhores para a próxima vez.

Por descuido ou falta de atenção ou quiçá apenas por acidente que a qualquer um poderia ter acontecido, o teu instrumento musical caiu ao chão quando o ias arrumar. O teu instrumento a sério. Aquele que o professor de música te recomendou veementemente que não podia cair ao chão, porque era muito mais frágil do que aparentava. Foi sem querer mãma... dizem já as tuas lágrimas prontas a saltar. Eu sei que foi sem querer. Mas foste tu. E ainda que sem querer, a responsabilidade é tua. Não quero dizer ao professor!!!! as lágrimas agora caem a sério. Não queres dizer ao professor?!?!? Então??? Vais esconder??? Caso não saibas meu menino, esconder é o mesmo que mentir... Vais mentir ao professor?!?!?! Então mas o que lhe vou dizer?? A verdade. Que foi um acidente. Vais perguntar-lhe se tem arranjo, mandar-se-á arranjar, e vais pagar-lhe com o dinheiro que receberes no Natal. As tuas lágrimas caem com intensidade. Porque não queres ficar sem prendas. Porque não foi de propósito. Talvez penses que a mamã é tão má que deveria assumir o acidente e desculpar-te perante o professor. Mas a mamã não o fará. Porque só essas lágrimas que agora correm te ensinarão que há cuidados a ter, e que o primeiro responsável pelos nossos atos somos sempre nós próprios. Depois de muita conversa e algumas lágrimas, acabaste por concordar comigo. És um crescido. És um valente. Disseste a verdade ao professor, ainda que os teus olhos brilhassem de medo e todo o teu corpo estivesse tenso com a dúvida do que ira ele dizer. O professor desvalorizou, disse que não era grave. Tu sorriste e descomprimiste, o teu dinheiro do Natal já não estava comprometido. Eu sorri também, porque sei que a lição ficou lá :)