19 agosto 2013

A importância dos rituais

Tenho lido aqui e ali que ter um serviço de jantar é de alguma forma algo supérfulo. Eu tenho um serviço de jantar. Que adoro e não dispenso. Que uso com frequência, porque faço várias festas em casa. Que felizmente ainda não teve nenhuma baixa (os bons serviços aparentam-se frágeis, mas são na verdade mais resistentes que os do dia-a-dia). Que tem que ser lavado à mão. Uma seca? Nem por isso... Uma alegria imensa ao ver uma mesa imaculada, com um serviço que não é o de todos os dias. Uma amena cavaqueira à volta do lava-loiça, que os dias de festa também são de entre-ajuda... 


Todos os fins de semana (ou quase) havia uma visita a casa dos avós. A mesa corrida, tantos lugares. A esperança de um prato especial, de uma sobremesa. Somos tantos. Avós, tios, pais, primos, netos, bisnetos. Somos tantos. Tantos pratos, tantos sábados sentados à mesa dos avós. E dos tantos sábados iguais, o desejo secreto que chegasse um sábado especial. Em tantos sábados iguais, havia sábados diferentes: Sábados em que os pratos eram de festa, os copos eram de festa. O prato principal era especial, a sobremesa estava garantida. Era o Natal, ou o aniversário da avó, ou do avô, ou Páscoa, ou Carnaval... Eram sábados diferentes, dias diferentes. Em que nos nossos olhos de miúdos brilhava a alegria de ser dia de festa. 

Tento prepetuar estes rituais. Tento que os meus filhos atribuam um significado especial a estes dias. Lembro-me de me sentir tão feliz por ser dia de festa. Por naquele dia (apesar de sermos exactamente as mesmas pessoas) haver uns pratos diferentes na mesa, por estar tudo perfeitamente alinhado e sem falhas. Hoje, na minha casa, sinto que os meus filhos sentem o mesmo. O facto de a loiça não ser a mesma, de a toalha não ser a mesma, de a mesa ser posta na sala e não na cozinha. Quando se aproxima um aniversário, perguntam-me se podem ajudar. A por a mesa e a preparar tudo, a por uma mesa que não é a mesa do dia-a-dia. Os olhos deles brilham. O dia de festa não é um dia igual. É um dia e toda uma sequência de rituais que ficará para sempre nas memórias deles. Rituais que (pelo menos assim o espero!) os manterão felizes no seio da família, suficientemente felizes para quando entrarem na tola adolescência continuem a fazer parte da vida deles, ocupando-os de forma saudável.

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